A Nova Era – semana #141: um grande giro de 360 graus
A semana #141 do governo Bolsonaro teve o presidente subindo, descendo e dando uma reboladinha no seu tom de radicalismo. A Frente Ampla Liberal Isentona Unificada fez o seu primeiro protesto contra Bolsonaro e as elites riram por último (e riram melhor).
Veja tudo isso e muito mais no resumo da semana #141 do governo Bolsonaro.
[a versão web da newsletter pode ser lida aqui]
The following takes place between sep-07 and sep-13
Subiu o tom
Diante de duas multidões poliglotas, Jair Bolsonaro subiu em palanques em Brasília e São Paulo para realizar as suas falas do 7 de Setembro. Como apontado na edição anterior dessa série, o presidente repetiu ameaças golpistas, incitou a desobediência a decisões judiciais, culpou o Supremo Tribunal Federal por aquilo que ele mesmo fez, e insistiu em pautas já rejeitadas pelo Congresso.
Os discursos não foram originais sequer no “eu só saio do poder morto”. Aqui reservamos o direito ao ato de ficar surpreso apenas para o anúncio de uma reunião do Conselho da República, órgão que reúne os presidentes do STF e do Senado: em notas, Luiz Fux, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) avisaram que não foram chamados para a tal festa pobre que os homens armaram para lhes convencer de brincar de golpe.
Reagiu ao tom
Muita gente não respondeu positivamente às falas de Bolsonaro. O tucano João Dória defendeu o impeachment do presidente abertamente pela primeira vez desde a sua eleição. A medida foi acompanhada de uma reunião do PSDB para discutir a posição do partido sobre o tema — ficaram apenas com a ideia de ser oposição, em agrado aos deputados federais do partido.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Luiz Fux, organizou uma reunião entre os ministros da Corte para acetar uma resposta institucional. Ela foi entregue em um tom pouco disposto à boa vontade com o ocupante do Planalto.
Enquanto Rodrigo Pacheco cancelava todas as sessões do Senado, o PSD de Gilberto Kassab se reunia para avaliar se seguia ou não o rumo de partidos que já se colocam abertamente a favor da queda de Bolsonaro. No Twitter, João Amoêdo (Novo), Manuela D'Ávila (PCdoB), Roberto Freire (Cidadania), Marina Silva (Rede) e Eduardo Leite (PSDB) também criticaram as falas do presidente e/ou pediram a sua queda. Já Arthur Lira disse que era hora de não se falar mais em golpismo (mas ignorou que o impeachment é o melhor remédio para isso).
DEM e PSL soltaram uma nota conjunta de repúdio à fala do presidente. Nenhuma linha da carta comentou se a fala do presidente foi forte o bastante para o DEM sair do governo e o PSL abandonar a base de Bolsonaro no Congresso. Prioridades.
Abaixou o tom
Sem que ninguém (além de uma meia dúzia de liberais desiludidos com a vida) pedisse, Michel Miguel entrou em cena para colocar panos quentes na República. O ex-presidente fez uma ponte entre Bolsonaro e Alexandre Moraes, construiu uma cartinha no melhor estilo “foi mal, tava doidão” e ainda guardou tempo para postar algo no close friends do Instagram.
Normalizou o tom
A moderação do presidente durou tão pouco quanto a postura democrática de Arthur Lira. A base conservadora de Bolsonaro não gostou muito do que ele disse na cartinha escrita com o apoio do Temer. Quer dizer, ficou insatisfeita até que a fatura caísse e o discurso voltasse a ser alinhado com o do Planalto.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
Os atos falhos de Bolsonaro estão cada dia mais alinhados com as pesquisas eleitorais para 2022.
A Câmara aprovou quase a toque de caixa o novo (novíssimo (mais novo do que o Novo)) Código Eleitoral.
Os mais pobres estão mais desempregados e sofrendo mais com a inflação.
Paulo Guedes admitiu que o seu chefe atrapalha a recuperação da economia.
Os funcionários fantasmas de Carlos Bolsonaro moravam na casa do presidente.
Nem Augusto Aras conseguiu defender a constitucionalidade da MP das Fake News.
O governo já está vendo que a crise elétrica seguirá em 2022.
Lula ficou um pouco mais livre nessa semana.
O Tribunal de Contas da União suspendeu o autor do documento que colocava em dúvida o número de mortes por covid-19 no Brasil.
Bolsonaro quer usar dinheiro da segurança pública para custear casa de policial.
Arreda pra lá
No fundo, no fundo, todo mundo sabe que não vale a pena tocar o impeachment se Arthur Lira não for incomodado no seu acesso ao orçamento secreto. Os bilhões da planilha comandada pelo presidente da Câmara tornam os vários pedidos em que ele está sentado muito confortáveis. Não à toa a alternativa escolhida por muitos é jogar a responsabilidade de tirar o presidente do Planalto para o Tribunal Superior Eleitoral.
Notinhas na imprensa já trazem a ideia de que o TSE pode cassar a chapa Bolsonaro-Mourão por crimes na campanha de 2018. Isso colocaria Arthur Lira no Planalto e ainda o livraria do desconforto de lidar com um presidente que não gosta muito da ideia de um orçamento secreto. Não é algo que acontecerá, ao contrário da recusa do Senado em marcar a sabatina de André Mendonça para o STF.
Situs
Na esteira do 7 de Setembro, um monte de caminhoneiro bloqueou as estradas federais em pelo menos 16 estados na quarta-feira (08). Ao contrário dos movimentos do governo Temer, eles não queriam pedir algo para a categoria: a pauta era contra a democracia.
O Planalto entrou em pânico. Bolsonaro gravou um áudio pedindo paz nas estradas e a mensagem foi recebida como se fosse fake news (ah, a ironia). Em resposta, o ministro da Infraestrutura entrou em campo e publicou um vídeo confirmando que o Bolsonaro tinha deixado de lado essa coisa de caos social de viés golpista — por hora.
A semana da pandemia
Enquanto isso, no Brasil em que a pandemia ainda existe, o Ministério da Saúde suspendeu a entrega de vacinas aos estados em função dos atos bolsonaristas do 7 de Setembro. 2,6 milhões de doses estiveram envolvidas na ação. Já no lado de quem trabalha dia e noite pela saúde dos brasileiros, o Instituto Butantan montou uma força tarefa para atestar a qualidade dos lotes de CoronaVac que foram suspensos pela Anvisa.
Pela primeira vez desde o dia 13 de novembro de 2020, a média móvel de mortes por covid-19 ficou abaixo de 500 mortes/dia. Já as taxas de ocupação de UTIs estão abaixo de 60% na maioria das capitais brasileiras. Não é hora de descuidar-se, mas dá para ter esperança com o futuro.
Medo, delírio e fracasso (em Brasília e em outras três capitais à sua escolha)
Vendo a água bater na bunda após o dia 07, o Movimento Brasil Livre resolveu parar de adotar discursos políticos de timing ruim (para dizer o mínimo) e chamar as esquerdas e as centrais sindicais para os atos de oposição marcados para o dia 12. O chamado foi atendido por várias lideranças de esquerda, como Isa Penna (Psol-SP), Ciro Gomes (PDT) e Alessandro Molon (PSB-RJ) — mas não todas elas.
Pois é. Sem o maior partido de esquerda nas manifestações (e o Vem Pra Rua dando motivos para que eles fiquem em casa na próxima manifestação), a festa democrática da Frente Ampla Liberal Isentona Unificada virou um enterro. Menos de seis mil pessoas se uniram na avenida Paulista para protestar contra o presidente, o que é mais ou menos uma terça-feira fraca para qualquer protesto convocado pela CUT.
A F.A.L.I.U. pode reclamar pelo resto do ano da ausência do partido que lidera as pesquisas de opinião contra o presidente. Mas o fato é que ninguém é obrigado a participar de uma festa para a qual foi chamado de última hora (e a contra gosto dos organizadores). As coisas ficam todas mais fáceis se as forças de centro esquerda e centro direita admitirem que se odeiam mais do que odeiam Bolsonaro e, no fundo, só querem participar das manifestações em que elas lideram.