A Nova Era – Semana #144: governando pelo exemplo
Uma semana marcada por tempestades de areia, tempestades políticas e vazamentos de dados comprometedores. Enquanto parte da oposição se unia nas ruas, o ministro da Economia era punido pelas suas decisões com alguns milhões de reais a mais em seu bolso.
E para quem ainda diz que a economia não está bombando, chegou a hora de olhar com atenção para o mercado de venda de ossos de boi: ele nunca esteve tão aquecido.
Confira tudo isso e muito mais no resumo da semana #144 de governo Bolsonaro.
The following takes place between sep-28 and oct-04
Atendendo a todas as expectativas
O depoimento de Luciano Hang à CPI da Covid começou bagunçado antes mesmo do depoente chegar ao Senado. Na internet, o dono da rede Havan publicou um vídeo com um par de algemas. Elas seriam para “poupar trabalho da CPI”.
Quando esteve à frente dos senadores, Luciano Hang fez propaganda não autorizada de suas lojas, admitiu que a sua mãe utilizou remédios ineficazes contra a covid e se apegou a detalhes linguísticos. O show de horrores do seu depoimento serviu mais para animar as bases bolsonaristas do que ajudar a CPI a colocar o empresário na mira da Justiça. Mas dava para esperar algo diferente?
Aliança mortal
Também depôs à CPI da Covid (e deu aulas grátis de direito) a advogada Bruna Morato. Morato é representante dos 12 médicos que denunciaram experiências com pacientes sem autorização e a ocultação de mortes por covid-19. Ela afirmou que a Prevent Sênior atuou ao lado do governo pela validação e utilização de remédios ineficazes contra a covid-19.
A advogada também afirmou que os médicos eram coagidos a distribuir o “kit covid” e a reduzir o número de pacientes internados há mais de dez dias em UTIs. Segundo ela, os gestores da Prevent Sênior consideravam que “óbito também é alta”. A empresa chamou as acusações de “loucura”.
A Prevent Sênior não agiu sozinha. A CPI da Covid suspeita que o Conselho Federal de Medicina e os conselhos regionais da profissão atuaram junto com a empresa. Não custa lembrar: o CFM mantém a indicação de que médicos podem ter autonomia para indicar até três pulinhos de manhã para tratar doenças como a covid.
Homofobia e baderna
A CPI também ouviu o empresário bolsonarista Otávio Fakhoury. Ele é acusado de ter financiado material ilegal de campanha de Bolsonaro e propagar fake news durante a pandemia. Em seu depoimento, propagou negacionismo científico, proferiu homofobia e chamou tudo de liberdade de expressão, pois é assim que a banda toca no Brasil de Bolsonaro.
Afirmando o óbvio na folha timbrada
A Procuradoria-Geral da República enviou um documento ao Supremo Tribunal Federal afirmando que o presidente convocou manifestações de caráter golpista para o dia 7 de Setembro. A afirmação foi adicionada aos autos do inquérito do STF sobre os atos realizados no feriado nacional. A fala golpista deste caso em específico foi proferida por Whatsapp, então não podemos saber o que a PGR pensa sobre todas as outras vezes que o presidente foi golpista.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
O senado americano não está disposto a bancar outro golpe no Brasil.
As mudanças no Código Eleitoral de 2022 ficarão para 2024 (se ficarem).
A Prevent Sênior foi condenada a pagar R$ 1,9 milhão a um paciente tratado com “kit covid” pela empresa.
A Procuradoria-Geral da República investigará o ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto, por suposta ameaça às eleições de 2022.
A Petrobras deve destinar R$ 300 milhões para subsidiar a compra de gás de cozinha para famílias de baixa renda. Os acionistas toparam?
Jair Bolsonaro nunca foi tão reprovado pela população brasileira como é hoje.
Expectativa: frente ampla pelo impeachment.
Realidade: movimento liberal saindo de fininho dos atos e união entre grupos políticos rejeitada por todos os lados, inclusive aqueles que estão mais próximos do que gostariam.
Desmatamento é morte e tempestade de poeira.
Arthur Lira (PP-AL) é o governista mais poderoso do Brasil.
A semana da pandemia
A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) deixou vencer o equivalente a R$ 80,4 milhões em kits de testes para covid-19, vacinas e remédios para outras doenças. O órgão chegou a ser avisado sobre a possibilidade dos produtos vencerem. Como a distribuição não foi realizada a tempo, tudo deverá ser inutilizado.
Enquanto o Tribunal de Justiça do Rio suspendia a exigência de comprovante de vacinação para acesso a locais públicos na capital do estado (decisão que foi derrubada no STF), a Secretaria Especial de Cultura inovou: os burocratas do órgão querem proibir a obrigatoriedade de passaportes de vacina em eventos e atrações financiadas pela Lei Rouanet. Pedido de Bolsonaro.
Olho no lance
A Prevent Sênior não foi a única empresa que se uniu ao governo na aplicação de remédios ineficazes contra a covid-19. A Hapvida, maior operadora de saúde das regiões Norte e Nordeste, é acusada de incentivar seus profissionais a “aumentarem consideravelmente” a indicação de cloroquina e o tratamento de pessoas em casa. As medidas tinham como foco reduzir o número de pacientes internados nos hospitais da rede.
Não é belo e talvez não seja moral
Um vazamento de dados sobre empresas offshore mostrou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mantiveram contas no exterior após a sua chegada ao poder. O que não era, a princípio, um problema, se tornou um após Guedes informar que não se abdicou do controle de sua conta. Os parlamentares (não governistas) partiram pra cima do ministro, uma vez que a sua postura pode colocá-lo em situação de criminhos.
É bem provável que tudo isso dê em nada para o ministro? Sim. Segundo ele, a Comissão de Ética Pública considerou ser absolutamente normal ele se manter à frente da Economia sem perder o controle da offshore. No limite, o ministro poderia até dizer que é a favor de taxar ganhos de capital no exterior.
Mas aqui apoiamos a sangria de otário em praça pública sempre que o otário em questão for um corno de marca maior. É política, tá liberado.