A Nova Era – Semana #182: prende, solta e pressiona
Ex-ministro do governo sem corrupção sendo preso por suspeita de corrupção, pressões sobre o Tribunal Superior Eleitoral e ideias ruins para combater o aumento de combustíveis (de novo).
Tudo isso e muito mais no resumo da semana #182 do governo Bolsonaro.
The following takes place between jun-21 and jun-27
Partiu pro ataque
Arthur Lira (PP-AL) se uniu a Bolsonaro e partiu para cima da Petrobras. O presidente da Câmara dos Deputados apoiou publicamente uma PCI para a empresa, afirmou que (o agora ex-presidente) José Maura Coelho não tinha legitimidade para ocupar o seu cargo e que era necessário “tirar a máscara” da petroleira. Quem não sabe como a Bovespa funciona chegou a acreditar que estávamos falando de uma empresa não listada na bolsa.
Fã ou Hater?
Já Bolsonaro, que conta com plenos poderes sobre o principal acionista da empresa (a União), apoiou a iniciativa. Durante o final de semana do dia 18, o presidente afirmou que era “inadmissível” que a empresa se gabasse dos seus lucros. Também afirmou que ela perderia R$ 30 bilhões em valor de mercado com a notícia de uma possível CPI.
Ideias ruins para problemas péssimos
Enquanto Bolsonaro e Lira atacavam a Petrobras, Adolfo Sachsida lembrou ao presidente que ele não pode interferir na política de preços de combustíveis adotada pela estatal. O motivo? A Lei das Estatais.
Mas o presidente pode tentar outras estratégias, algumas delas até um pouco mais eficazes do que intervir no ICMS. Nas ruas de Brasília (DF), começou a voar o balão de ensaio de um aumento do valor do Auxílio Gás e uma espécie de “bolsa-caminhoneiro” para ajudar a categoria. Não é a melhor estratégia, mas certamente é mais eficiente e socialmente justo do que financiar diesel de dono de Land Rover.
Só falta falar de onde sairá o dinheiro.
Blindagem
Jair Bolsonaro sabe que, se demorar muito para tentar encontrar uma solução para a inflação que envolva gastos federais, terá que lidar com a possibilidade de ser acusado de cometer crime eleitoral. Diante disso, o presidente publicou um decreto para blindá-lo de possíveis acusações caso os seus planos de distribuição de dinheiro para caminhoneiros e pobres dê certo. Se tudo der errado, ainda há a possibilidade de um estado de calamidade ser decretado.
Pequenas Notas do Quinto dos Infernos
Uma juíza tentou impedir uma criança de 11 anos de conseguir acesso ao seu direito legal ao aborto.
Após várias aberturas para o diálogo, as Forças Armadas cobraram mais diálogo com o TSE e reafirmaram que farão, durante as eleições, o que elas já estão autorizadas a fazer.
O PT centralizou um pouco mais o seu plano de governo para as eleições de 2022.
Lula segue sendo o candidato com mais chances de derrotar Bolsonaro (e todos os outros candidatos) ainda no primeiro turno.
Mais de 111 milhões de doses de vacina contra a covid-19 não foram aplicadas pois os brasileiros aptos a recebê-las não foram ao posto de saúde mais próximo.
O governo federal utilizou as sobras do Bolsa Família para investir nas Forças Armadas.
A Polícia Federal impôs sigilo de cem anos sobre a investigação interna da morte de Genivaldo de Jesus dos Santos.
Arthur Lira (PP-AL) mandou um recado para o(a) próximo(a) ex-presidente(a): o orçamento secreto fica.
A Petrobras tem um novo presidente.
Roberto Campos Neto afirmou que o pior da inflação brasileira está no passado.
Queimando a mão para não queimar a cara
A Polícia Federal prendeu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e alguns dos pastores suspeitos de transformarem a liberação de verbas no MEC em “balcão de negócios”. Os acusados responderão por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência.
Após afirmar que colocaria a cara no fogo pelo ex-ministro, Bolsonaro jogou Ribeiro pela janela. Bolsonaro também afirmou que a corrupção dele é diferente da corrupção de outros governos, como se isso fosse algo bom.
Coincidência I
Na quinta-feira (23), o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal, mandou soltar Milton Ribeiro. Com o pasto de volta para a sua casa, o presidente voltou a defendê-lo.
O delegado federal que pediu as prisões, Bruno Calandrini, disse em mensagem a colegas que houve “interferência na condução da investigação”. Já a imprensa revelou que o ex-ministro, esta “pessoa honesta e fiel”, pouco antes de ser preso, afirmou em ligação que o presidente estava com um “pressentimento” de que algo ruim aconteceria a ele.
Coincidência II
As investigações também apontam que Luciano Musse, ex-gerente de projetos do Ministério da Educação, hospedou-se no mesmo hotel do pastor Arilton Moura por dez vezes em Brasília (DF). O religioso é um dos suspeitos de integrar o esquema de tráfico de influência no MEC.
Segundo o empresário e radialista Edvaldo Brito, Moura pediu uma “doação” de R$ 100 mil em obras missionárias após organizar uma visita de Milton Ribeiro à Nova Odessa (SP). As afirmações, feitas em depoimento à Controladoria-Geral da União, se uniram a acusações semelhantes feitas por prefeitos de outras cidades.
Mão amiga
Com a cara já queimada, Bolsonaro quer evitar, agora, sentir o fogo arder em sua mão. Como quem sabe muito bem o que o ex-ministro pode causar para as suas pretenções políticas, o governo acionou a base aliada para tentar impedir a instalação de uma CPI no Senado. A oposição fez trabalho de formiguinha para conseguir as assinaturas necessárias para isso.
Ao longo da semana, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) jurou que não fará corpo mole caso o pedido seja apresentado. O histórico dele no assunto gera desconfiança, mas, como o pedido já está entregue, o presidente do Senado está na posição ideal para provar a esta redação que ela está errada.