A Nova Era – Semanas #159: cheiro de derrota
Inflação, ômicron e eleição.
Tudo isso e muito mais no resumo da semana #159 do governo Bolsonaro.
The following takes place between jan-11 and jan-17
Acabou a paz
O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar o Supremo Tribunal Federal. Mais especificamente, os seus alvos regulares: os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
Bolsonaro disse que ambos querem ver o ex-presidente Lula reeleito (o que provavelmente é verdade, segundo as pesquisas eleitorais recentes) e que eles atacam as “liberdades democráticas nossas” (mentira). Em notas relacionadas, as investigações contra o governo e o presidente no STF avançaram.
Seja bem-vindo e aproveite a linguiça
A metralhadora de merda que chamamos de boca presidencial também atacou a ciência. Na mesma entrevista, o presidente Bolsonaro disse que a variante ômicron, do coronavírus, “não matou ninguém” (o que não é válido sequer para os vacinados) e que ela é bem-vinda no país. A única parte que ele pode ter acertado é o sinal de que essa variante pode nos levar ao fim da pandemia, mas isso não deve ser visto como um indicativo de que Bolsonaro andou lendo o Nexo Jornal.
Fique de olho I
A dança das cadeiras para a formação de alianças nas próximas eleições ainda não acabou, mas certamente teremos mudanças de última hora. O STF está analisando a validade das federações partidárias, que afetará diretamente no modo como os partidos farão alianças nos próximos meses. Como elas obrigam as legendas a atuarem como um só partido por quatro anos, é importante ter muito cuidado na hora de definir quem é que vai segurar a sua mão até segunda ordem.
Fique de olho II
Outro ponto muito importante está relacionado com a Lei da Ficha Limpa. O PDT quer mudar a lei e colocar a contagem da inelegibilidade de oito anos para o instante em que ocorrer condenação em segunda instância ou perda do mandato. Atualmente, a norma considera apenas o fim do cumprimento da pena.
Fique de olho III
Por fim, e relevante apenas para uma meia dúzia de liberista de internet, o ministro André Mendonça pediu ao Executivo e ao Legislativo que expliquem o fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões para esse ano. A requisição se deu no âmbito de uma ação movida pelo partido Novo contra o fundo.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
A inflação apresentou, em 2021, a maior alta desde 2015. 2022 não será muito melhor para a classe média e para os pobres. O Banco Central disse que a culpa não foi dele, mas sim de seu eu lírico.
Os perigos que o Cerrado brasileiro sofre ficaram ainda piores com os cortes de gastos do Governo Federal.
Já a Amazônia teve desmatamento recorde em 2021 enquanto Bolsonaro comemorava a queda nas multas do Ibama.
A pré-campanha de Sergio Moro segue cheia de cenas lamentáveis.
A briga pelo aumento dos servidores da segurança não será tão simples quanto se pensa.
As partes de Minas Gerais que não passaram os últimos dias embaixo d’água correram o risco de ficar embaixo de lama tóxica.
Bolsonaro abraça o centrão para ganhar dinheiro, mas ignora os seus desejos para conseguir o apoio dos evangélicos nas eleições.
À pedido do Ministério Público Federal, a Justiça arquivou o inquérito que apurava a suspeita de repasses ilegais da Oi à uma empresa que teve como sócio um dos filhos do ex-presidente Lula, por falta de provas.
A semana da pandemia
Vacina no braço
Um mês após a autorização da Anvisa, as doses pediátricas da vacina contra a covid-19 chegaram ao Brasil. Os lotes já foram distribuídos para os estados e o jornalismo brasileiro já começou a registrar bonitas imagens de jovens recebendo a agulha no braço. Demorou um ano, mas finalmente este dia chegou. E boa notícia: assim como ocorreu com as vacinas para adultos, a vacinação das crianças terá ampla adesão.
UTI sem espaço
Enquanto isso, a variante ômicron está ajudando na lotação de UTIs país afora. Ao menos quatro capitais, segundo a Fiocruz, já estão com ocupação acima de 80%. Ao mesmo tempo, os testes estão ficando mais raros (e caros, para quem opta por realizá-los na rede privada).
A recomendação, agora, é a seguinte: se você estiver vacinado e, muito provavelmente, sem sintomas graves da doença, fique em casa. Trate a sua possível covid como se fosse uma gripe(zinha) e deixe os exames de confirmação da doença para pacientes graves, trabalhadores da saúde e outros profissionais essenciais. O pior que pode acontecer é você ser obrigado a trabalhar na sua cama.
Autoteste travadaço
O Ministério da Saúde pediu, somente na última semana, em caráter formal, a liberação do autoteste de covid-19. O pedido foi feito para a Anvisa, agência responsável pela liberação desse tipo de exame. A agência regulatória deve liberar temporariamente o autoteste e, quando isso ocorrer, poderemos contar com aproximadamente dez milhões de autotestes por mês de qualidade 100% nacional.
Micão
João Dória (PSDB-SP), o governador paulista e futuro perdedor de eleições, não deixou de fora a chance de fazer um photo op para ser o responsável pela primeira vacina para crianças no Brasil. Acontece que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, não gostou do ato político-sanitário do tucano. Mas, até então, ninguém mandou o ministro deixar o seu braço ser segurado pelo Bolsonaro na hora de decidir quando as vacinas seriam aplicadas, não é mesmo?
Toma que o filho é seu
O Orçamento da União virou Orçamento do Centrão. Sem chamar muita atenção, o presidente Jair Bolsonaro entregou para Ciro Nogueira controle total sobre os gastos do governo em 2022. Após a publicação de um decreto no último dia 13, a Casa Civil terá de dar aval a todas as mudanças que forem feitas nos gastos do Executivo em 2022.
Em outras palavras, o todo poderoso Paulo Guedes só conseguirá usar a sua tesoura após ela ser amolada pelo “filtro político” do mais poderoso membro do centrão da administração pública federal. O ministro da Economia jurou que está feliz com a mudança, por saber que ela tirou os holofotes da sua cabeça (só um pouco), mas não deixa de ser uma derrota para o posto Ipiranga. A seguir nessa toada, até o final do ano teremos, no máximo, um quiosque amarelo desbotado na Esplanada dos Ministérios.
Então tá
Jair Bolsonaro afirmou que o Congresso “está muito bem atendido” com o modelo de emenda parlamentar adotado pelo Legislativo para abusar do orçamento federal (mais sobre isso aqui). Segundo o presidente, “hoje em dia todos estão ganhando”. O que não é mentira: Jair Bolsonaro só cai em caso de desastre e os parlamentares poderiam montar uma frota de tratores secretos se quisessem.
O governo Bolsonaro começou mostrando o seu lado anti-democrático e militarizante e terminará mostrando a sua face sindicalista de militar de baixa patente e amiga do baixo clero. Pelo menos todo mundo que abraçar o presidente durante a sua campanha para reeleição não poderá alegar ignorância em 2023.