A Nova Era – Semanas #161-163: berro, hipocrisia e corrupção
As ironias de Sergio Moro, o baile de Bolsonaro com o STF e o Brasil sendo um lugar horrível.
Tudo isso e muito mais no resumo das semanas #161 e #162 do governo Bolsonaro.
The following takes place between jan-25 and feb-14
Foda passar por isso
O Tribunal de Contas da União recebeu um pedido do Ministério Público para que os bens do ex-juiz Sergio Moro sejam bloqueados até que os seus ganhos na iniciativa privada sejam esclarecidos. A solicitação ocorre no âmbito do inquérito que analisa se Moro praticou evasão fiscal enquanto trabalhava para a consultoria Alvarez&Marsal e se havia conflito de interesses no exercício de seu trabalho (havia).
Ironicamente, o ex-ministro disse ser vitima de lawfare (com alguma razão). O termo é utilizado para situações em que inquéritos são executados ao arrepio da lei, em varas incorretas e com o uso procedimentos, digamos, “ousados”. Caso o leitor queira aprender mais sobre o tema, basta ler as notícias sobre a Lava Jato ao longo dos últimos anos.
Teste de coerência
O timing da ação do TCU contra o Moro não poderia ser pior. Nas últimas semanas, o Movimento Brasil Livre — MBL — abraçou (oficialmente) o pré-candidato à presidência. Dividindo o mesmo partido, os líderes do MBL terão que dizer ao mundo: suspeita de lavagem de dinheiro é motivo de vergonha apenas para petista ou político do Podemos também merece o mesmo rigor aplicado aos envolvidos na Lava Jato?
Quase lá
Falando naquele que provavelmente será o grande nome de centro contra o Bolsonaro, o ex-presidente Lula (PT) está quase selando a sua aliança com o ex-governador Geral Alckmin. Segundo o próprio Lula, o único impedimento para a aliança ser oficializada é a filiação do ex-tucano a um partido. Apesar de protestos de petistas, Lula sabe que a união de ambos é algo que é “bom para o Brasil e sobretudo deve ser bom para o povo brasileiro”.
Quadrilha
O ministro Alexandre Moraes, do STF, mandou Bolsonaro depor presencialmente no STF.
O presidente topou depor presencialmente em investigação que apura o vazamento de investigação feito pelo próprio Bolsonaro.
Jair Bolsonaro não foi depor, o que pode ser enquadrado como crime de responsabilidade.
Mas espere, ainda tem mais
A Política Federal concluiu que o presidente cometeu crime ao vazar um inquérito sigiloso em live ao lado do deputado federal Filipe Barros (PSL-PR). O único motivo para os dois não terem sido indiciados após o insight dos policiais foi o foro privilegiado que ambos possuem.
O relatório foi encaminhado para a Procuradoria-Geral da República, que deverá se manifestar sobre as acusações, que também incluem uma notícia-crime (criada após o presidente faltar a um depoimento à PF). O deputado Filipe Barros nega que houve crime: ninguém tinha o avisado que a investigação, que sempre é sigilosa, era sigilosa.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
O governo que prometeu acabar com a corrupção no Brasil caiu duas posições no ranking que avalia a percepção do brasileiro sobre o tema.
Bolsonaro decretou luto de um dia pela morte do astrólogo Olavo de Carvalho.
O presidente também criou uma bomba fiscal para estados e municípios ao aprovar novo aumento de salário para professores.
A Selic voltou ao dígito duplo.
O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) utilizou uma concepção libertária de liberdade de expressão para defender a legitimidade de um partido nazista e resolveu processar quem utilizou uma concepção libertária de liberdade de expressão para acusá-lo de realizar apologia ao nazismo.
O censo 2020 começará em 2022.
Surpreendente: policiais matam menos se houver uma câmera gravando as suas ações.
Estados precisam recorrer ao STF para conseguirem empréstimo com o Banco do Brasil.
O líder da FAB disse que ainda existe respeito à democracia dentro das Forças Armadas Brasileiras.
Apesar de todos os apelos, Bolsonaro resolveu visitar Vladmir Putin, na Rússia.
A semana da pandemia
Se explica aí
Diante de todo lero lero do ministro Marcelo Queiroga (Saúde) e da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) para desincentivar pais a vacinarem as suas crianças, uma comissão do Senado aprovou a convocação de ambos para falar sobre o tema. A convocação tem como foco esclarecer as iniciativas antivacina de ambos e o atraso do Ministério da Saúde na distribuição de imunizantes para a juventude.
Mas tem vacina pra isso?
São Paulo decidiu que o retorno das aulas presenciais dependerá da vacinação de crianças e adolescentes. Para a raiva dos alunos, professores e pais que gostam dos discursos do Governo Federal, o passaporte vacinal terá cobertura ampla: só sairá do Microsoft Teams quem estiver com o cartão vacinal em dia.
A iniciativa do governador João Dória (PSDB) é louvável. Mas há uma questão a ser resolvida: ele conseguirá disponibilizar imunizante para todos os alunos com a mesma velocidade que ele deseja vê-los em sala de aula?
Darwin awards
Após alguns longos dias com aumentos recordes de novos casos de covid-19, a rede pública e privada de saúde ampliou o número de leitos para atendimento aos contaminados pela doença. A medida só se tornou necessária graças a quantidade de brasileiros que não tomaram as suas doses de reforço contra a covid-19. Afinal, como já demonstrado em todos os países do globo com cobertura vacinal ampla, essa é a única maneira de não ser internado (ou enterrado) pelo coronavírus.
Dados levantados pelo Nexo demonstram que, em algumas capitais e cidades de grande porte, 90% dos internados pela covid-19 não estão com o ciclo vacinal completo. Os 10% restantes são compostos por pessoas que estavam em algum grupo de risco. Em outras palavras, 90% dos brasileiros que foram parar em um hospital poderiam ter evitado essa situação tomando as duas doses da vacina e/ou a dose de reforço.
Havendo vacina disponível, vacine-se. Não custa nada, pode te dar uns dias de atestado em casa e agiliza o nosso cosplay de Dinamarca.
Situação chata
Ciro Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil, afirmou que é o “para-raio do Posto Ipiranga”. Segundo o nome do centrão, agora cabe a ele dividir a responsabilidade entre o “não” e o “sim” que o governo dá quando alguém solicita recursos em troca de apoio político. No caso do Ciro, em específico, o trabalho se resume a dizer algo na linha do “ignora o “não” do Paulo Guedes, vota a favor do que eu quero e garante o seu “sim” comigo.
Ok
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, avisou que o TikTok consegue furar camisinhas. Durante a abertura da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, em Brasiília, Damares Alves trouxe essa grande revelação para os brasileiros. De acordo com as palavras da própria, há adolescente “vendendo seu corpo” no aplicativo de vídeos.
A fala impulsionou as pretensões políticas de Damares Alves. Sabe como é, nós somos a nação da mamadeira de piroca.
País rico é pais sem educação
A organização Todos Pela Educação avaliou os impactos da pandemia nos indicadores educacionais brasileiros e conseguiu confirmar, a partir da Pnad Contínua, do IBGE, que o que já não era bom, ficou ainda pior. 40,8% das crianças brasileiras entre 6 e 7 anos não sabiam ler e escrever em 2021 (em 2019, a taxa era de 25,1%). Na população negra, o valor sobe para 47,4%.
O ex-tucano vai vencer o medo
Já é quase oficial. Lula terá o ex-tucano Geraldo Alckmin como o seu vice de chapa durante as eleições de 2022. Apesar do choro do internauta, o ex-presidente já confirmou que ele terá a verdadeira chapa de centro neste ano. Só falta o PT e o PSB se resolverem quanto ao candidato ao governo de São Paulo para os tramites serem fechados.
Também na editoria “coisas que deixam feliz quem não vê a reeleição de Lula como o fim do mundo”: Mantega não será seu ministro.
De olho na chave do cofre
Boa parte dos presidenciáveis quer retirar do Congresso o poder de controlar boa parte do Orçamento Federal. Infelizmente, uma grande parte do Congresso não quer perder o seu controle sobre o Orçamento Federal. É o que revelou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), em entrevista ao jornal O Globo.
Aqui, na redação, estamos aguardando o momento em que o vencedor das eleições tentar encarar de frente o centrão. Ele acontecerá junto com o instante em que os novos governistas forem obrigados a justificar a saia justa em que o ocupante do Planalto se meter.
Independentemente de quem for eleito em 2022, 2023 será um ano muito divertido.