A Nova Era – Semanas #166-167: o celeiro de ideias ruins
As várias alternativas para não reduzir o preço dos combustíveis, os impactos da guerra na Ucrânia no dia a dia do brasileiro e um deputado que falou demais.
Tudo isso e muito mais no resumo das semanas #166 e #167 do governo Bolsonaro.
The following takes place between may-01 and may-14
Missão (des)humanitária
Arthur do Val, deputado estadual em São Paulo, membro do MBL e youtuber, ganhou as notícias na manhã do último dia 04. Após postar nas redes que estava em “missão humanitária” na Ucrânia, ele sentiu-se confortável para enviar áudios para os seus amigos com uma descrição completa das mulheres que encontrou em seu caminho. Tudo dentro do que esperamos de um deputado estadual que se dá ao trabalho de passar uns dias em uma guerra em que o seu estado não está envolvido diretamente.
Secando gelo com toalha molhada
O deputado deu uma desculpa ruim, desistiu de disputar o governo de São Paulo e foi expulso do Podemos. Já o pessoal do MBL disse que não era bem isso e que não precisávamos colocar o futuro do movimento em cheque ou pedir a cassação do mandato do seu amigo. “Estamos falando de um movimento de direita, não de uma exposição de arte feita para pessoas de esquerda” disse uma fonte à nossa redação.
Peixe morre é pela boca
Considerando que o MBL cresceu pregando falas “politicamente incorretas”, insultando parlamentares e nadando em cima de qualquer escorregada que um político do outro lado desse, não dá para ter pena do que está acontecendo com o deputado Arthur do Val. “Mamãe Falei” não está com a reputação no lixo por fake news (como o MBL tentou fazer com Marielle Franco), mas por vermos quem ele realmente é. Pode acontecer.
Fogo amigo?
Enquanto Lula e Alckmin preparam a sua chapa para as eleições de 2022, os petistas mais aguerridos já demonstraram o que seria um governo do presidente: um show de fogo amigo e barraco no meio da calçada da Fundação Perseu Ábramo.
Na próxima sexta-feira (4), alas do PT contrárias à união entre o petista e o ex-tucano realizarão um debate online sobre a vice-Presidência. Talvez tenha chegado a hora de Lula parar de ser diplomático com gente do centrão e realizar uma ligação para os seus colegas de partido. A queda de Bolsonaro não será tão fácil.
O recado semanal: tome a sua vacina
Enquanto o número de mortes cai progressivamente apesar dos bailes de carnaval e blocos clandestinos, a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo mandou a real: quem não se vacinou está com uma taxa de morte por covid-19 26 vezes maior do que a dos vacinados por completo. E isso vale apenas para as mortes entre os dias 5 de dezembro de 2021 e 26 de fevereiro de 2022.
Bota esse sorriso de fora
Com a queda nos números de casos e de mortos, as cidades começaram a repensar a necessidade do uso de máscaras. As flexibilizações iniciais estão focadas em lugares abertos, especialmente aqueles em que a máscara já não era regra há muito tempo. Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte estão liderando o bonde das cidades em que o mau hálito é detectado com facilidade.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
Bolsonaro usou a guerra na Ucrânia para defender que precisamos minerar em terras indígenas (não precisamos).
Mario Frias, secretário especial da Cultura, gosta muito de usar o dinheiro público para fazer vários nada.
O Dia Internacional da Mulher foi uma ótima oportunidade para o presidente e o Procurador-geral da República demonstrarem o seu carinho pelas mulheres.
O ministro da Educação quer acabar com a liberdade de cátedra para a homofobia ser liberada no ambiente escolar.
A inflação em fevereiro foi a maior em sete anos.
Fabrício Queiroz quer ser deputado federal.
Após ter vetado a ideia, o presidente Bolsonaro decretou a distribuição gratuita de absorventes para mulheres carentes.
Alunos do ensino médio de SP apresentaram o pior desempenho da história após a pandemia.
O Fundão Eleitoral segue vivo.
Bolsonaro fará uma reforma nos seus ministérios.
Subiu
A guerra na Ucrânia deu uma sacudida no mercado de commodities. Como os países envolvidos produzem uma quantidade considerável de petróleo e trigo, o preço de ambos produtos tem aumentado bastante, especialmente com a falta de ânimo da OPEP em aumentar a sua produção.
No meio do caminho, a Petrobras, que passou quase dois meses sem aumentar o valor dos combustíveis, anunciou um grande aumento de uma hora para outra. Então chegou a hora do governo e da classe política fazerem algo. Algo ruim.
Abraço dos afogados
Após reduzir impostos federais, trocar o presidente da Petrobras por um pau mandado e culpar os governadores pelo aumento dos preços, o Planalto resolveu se aliar a políticos de oposição para realizar um revival muito ruim: o da conta petróleo.
O repeteco da conta petróleo foi planejado mais ou menos assim: um fundo de estabilização de preços da Petrobras seria criado e alimentado com um imposto sobre exportação de petróleo e dividendos da estatal. Em outras palavras, o dividendo que a Petrobras repassaria para o Governo Federal investir em educação seria utilizado para subsidiar gasolina de taxista, de dono de Corola e de motorista de Ferrari.
Além disso, o Congresso também analisou um projeto focado em isentar combustíveis e gás de cozinha de tributos federais e mudar a maneira como o ICMS é cobrado. Mas é papel da Câmara dos Deputados cuidar de impostos estadual? Não, não é.
Desagradar a classe média é difícil
Deveria ser papel do Congresso colocar pessoas pobres, sem veículo, para financiar o combustível de gente com mais dinheiro? Não, até por termos meios para reduzir o preço da gasolina temporariamente cobrando dos mais ricos. A função social da Petrobras é atender a demandas eleitorais do Presidente da República? Não, a função social dela é totalmente diferente.
Mas realizar política focalizada é muito difícil, ainda mais em um país com 25 anos de experiência em programas sociais focalizados. Afinal de contas, quando fazemos isso pensando nos combustíveis, somos obrigados a explicar para a classe média que, dessa vez, ela também terá que pagar a conta.
Telefone sem fio
No meio do caminho, a equipe econômica pensou em aumentar temporariamente o Auxílio Brasil. A medida seria uma alternativa à desoneração de tributos federais sobre a gasolina, com maior foco nos mais pobres e menor impacto fiscal. Só não é uma opção que agrada politicamente o Planalto.
E, pelo visto, Paulo Guedes (Economia) esqueceu de combinar o lançamento da ideia com João Roma (Cidadania). Consultado pela Folha de S. Paulo, o ministro da Cidadania afirmou que ninguém avisou ele sobre essa possibilidade. Como podemos ver, Guedes não consegue fazer algo bom nem quando as suas intenções são corretas.
Vai dar ruim
O mundo é feito de escolhas políticas, inclusive escolhas ruins. Quando governo e oposição optam por combater o aumento dos preços dos combustíveis não focando nas pessoas mais pobres com uma estratégia que já deu errado no passado, ele está obrigando estas pessoas a pagar pela gasolina dos mais ricos. É uma escolha legítima? Sim. Mas não dá para negar que existem alternativas melhores.