A Nova Era – Semanas #173-174: de ladinho, de ladinho, de ladinho
O Brasil lidando com Daniel Silveira e o brasileiro lindando com o Brasil.
Tudo isso e muito mais no resumo das semanas #173 e #174 do governo Bolsonaro.
The following takes place between apr-19 and may-02
Condena
O deputado federal Daniel Silveira foi condenado a 8 anos e 9 meses de prisão pelo STF. A decisão foi uma consequência dos vários ataques e ameaças feitos à Corte, e tem como efeito, não necessariamente imediato, a cassação de seu mandato.
Perdoa
Bolsonaro reagiu e concedeu perdão para Daniel Silveira. Em 2018, o presidente tinha dito que não utilizaria o indulto presidencial. Aparentemente, a promessa pode ser jogada fora se for para defender uma ideia de liberdade de expressão que não é aplicável na Constituição brasileira.
Reage
Parlamentares se movimentaram para anular o perdão presidencial, que tinha bastante cheiro de medida inconstitucional. Enquanto isso, o ministro André Mendonça foi dar explicações sobre a sua decisão, já que ela teria desagradado bolsonaristas e evangélicos.
A redação não se lembra do momento em que “agradar bolsonaristas e evangélicos” se tornou uma das obrigações de ministros do STF.
Acomoda
Tão logo o perdão foi anunciado, o colunismo de fonte oculta começou a trabalhar. Houve quem falasse em “rede de defesa da legalidade” diante do mais novo levante do presidente contra a Justiça. E em alguns locais espalhou-se a ideia de acomodação, com uma solução que desagradasse todos os envolvidos, inclusive o centrão, igualmente: retirar os direitos políticos do deputado, mas mantê-lo em liberdade.
Tripudia
Enquanto o STF e a Câmara trabalhavam para definir um futuro para o deputado Daniel Silveira, o condenado assumiu como titular de quatro comissões temáticas da casa legislativa. A mais importante delas foi na Comissão de Constituição e Justiça, uma ação com tanta falta de vergonha na cara que ficamos sem ter como comentar. As nomeações foram retiradas antes do fechamento desta edição.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
Está tudo caro e a culpa é do Bolsonaro.
O dia do trabalhador contou com Lula falando o que a plateia gosta de ouvir e Bolsonaro estimulando golpismo em evento fracassado.
O governo atual é o que promoveu o maior aumento silencioso do Imposto de Renda das últimas décadas.
O Itamaraty colocou em sigilo os relatórios da viagem de Bolsonaro à Rússia para ninguém saber sobre os vários nadas que ele fez lá.
O ministro do STF, Luís Roberto Barroso, elogiou os militares e os militares trataram a fala como uma crítica.
Jair Bolsonaro disse, de novo, novamente, mais uma vez, que não respeitará o Supremo caso seja tomada uma decisão que ele não goste (neste caso, sobre a demarcação de terras indígenas).
Uma criança yanomami foi estuprada e outra foi morta em uma área que sofre com invasões de garimpeiros ilegais.
O ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, descumpriu praticamente todas as regras da Anac sobre armas de fogo, disparou uma arma dentro de um aeroporto e feriu uma funcionária da Gol.
O Comitê de Direitos Humanos da ONU concluiu que Sérgio Moro foi parcial nos processos contra o ex-presidente Lula.
João Dória mandou avisar que Lula é melhor do que Bolsonaro.
Ameaça
Enquanto isso, no Planalto, o presidente Jair Bolsonaro utilizou um evento sobre liberdade de expressão para pregar golpe e suspensão de eleições. O evento também serviu para apoiar o deputado Daniel Silveira e atacar o STF. Daniel estava presente e carregava consigo o decreto com o indulto que recebeu de Bolsonaro emoldurado.
Flexibiliza
O governo anunciou o fim da emergência sanitária. A medida aumentou o espaço legal para que governantes flexibilizassem as restrições sanitárias em todo o país. Secretários de Saúde municipais e estaduais, no entanto, querem cautela.
Engaveta
A Procuradoria-Geral da República (PGR) salvou Bolsonaro mais uma vez. A PGR afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não há elementos que justifiquem uma investigação contra o presidente por suspeita de tráfico de influência no MEC. Aparentemente, um áudio dos suspeitos afirmando que eles atuavam a pedido de Jair Bolsonaro não é evidência o bastante.
Recua
O ex-presidente Lula aproveitou uma entrevista com youtubers para criticar o mundo moderno. “Está proibido contar piada no mundo, está chato pra cacete”, disse. A fala é, de novo, novamente, mais uma vez, uma mostra de que um terceiro mandato do petista não será a primavera vermelha que alguns esperam.
Falando em ajustes de expectativas, o PT recuou do recuo e afirmou que revogaria a reforma trabalhista caso voltasse ao poder. A decisão foi tomada para garantir o apoio do PSOL à candidatura de Lula. Mas quem se lembra dos motivos que levaram o PSOL a nascer pode esperar em pé pelo recuo do recuo do recuo.
Pelo sim, pelo não, é importante lembrar que toda a declaração do PT sobre o tema antes que o partido volte a ocupar o Planalto deve ser levada com descrédito. O que é dito, agora, serve mais para acalmar o ânimo do ouvinte do que fazer quem já tem posição defina para outubro mudar de ideia. É a vida.