Lulaverso – Ano II, semanas 1-2: passado vs presente
O PT demonstrando ser o único partido de verdade no Brasil, as brigas de Haddad com o Congresso e a primeira troca de comando ministerial de 2024.
Tudo isso e muito mais no resumo das primeiras duas semanas de 2024 do governo Lula.
(we're so back)
The following takes place between jan-01 and jan-15
Palocci 2.0
Fernando Haddad começou o ano fazendo política. Em entrevista ao Globo, o ministro da Fazenda ironizou a postura do PT sobre a sua gestão e lembrou que é necessário pensar em um sucessor para Lula. Sabe como é: não dá para reclamar dos efeitos das políticas monetária e fiscal e depois comemorar os resultados.
O tempo também passa rápido. Mesmo que Lula seja favorito para disputar 2026, o partido realmente precisa de alguém para 2030. A redação desta newsletter, porém, suspeita que não será o ministro.
Abraçando o capeta
Lula segue tentando manter um pouco de controle sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Dessa vez, o presidente buscou a ajuda do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal, para evitar que o controle sobre a execução de emendas parlamentares vá, de vez, para o fundo do mar. O problema é que esse navio já deve ter partido há décadas e o presidente esteja diante de uma batalha tão perdida que talvez seja melhor mudar o resultado do plebiscito de 1993.
Batman da democracia
Alexandre de Moraes afirmou à imprensa que a resposta do Judiciário aos atos de 8 de janeiro de 2023 foi uma demonstração de que o “STF não permitirá qualquer tipo de impunidade” para golpistas. O ministro também se defendeu das acusações de que cerceou os direitos humanos de quem não respeita os direitos humanos. Só não falou quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entrará na mira do tribunal.
O ministro também descreveu parte dos planos dos golpistas caso eles dessem certo. Na pior das hipóteses, não teríamos um ministro careca no STF após a primeira semana de janeiro passado. Ou democracia.
TIL
Para rememorar os atos, fazer uma cena para a GloboNews e marcar posição, várias autoridades e representantes da sociedade civil se reuniram no Congresso Nacional no último dia 08 para relembrar a invasão dos prédios dos Três Poderes. Governadores de oposição deram as mais variadas desculpas para se ausentarem. O destaque foi para Romeu Zema (Novo/MG), o político que descobriu que um evento realizado em um ambiente político, lotado de políticos, em defesa de um sistema político, é um ato político.
Miss me yet?
O natimorto Partido da Social Democracia Brasileira deu um motivo para a galerinha de centro-esquerda que chamava Geraldo Alckmin de nazista sentir saudades do tempo em que o líder da oposição era um senador de Minas Gerais que adorava passar os feriados no Rio de Janeiro.
O partido enviou lideranças para o evento e deixou claro que não há regime melhor para o país do que uma democracia “plena, total e irrestrita”. Se combinar direitinho, fazem até recap das chapas PT-PSDB nas próximas eleições.
Chegando lá
As falas indicando que golpistas não merecem perdão de Lula e Alexandre de Moraes foram bonitas, mas o que importa mesmo é a prática. E, nesse sentido, a Polícia Federal realizou uma das primeiras etapas da OperaÇão Lesa Pátria focadas nos suspeitos de financiar a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. Ao todo, o STF emitiu 47 mandados de busca e apreensão e um de prisão, espalhados por 11 estados do país e o Distrito Federal.
Nenhum dos alvos era Jair Bolsonaro, mas a hora dele chegará.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
O novo Procurador-Geral da República quer tomar conta dos inquéritos sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Brasil é um país de maioria não branca.
Dois projetos em tramitação no Senado querem acabar com a fabricação, o transporte, a venda e o uso de fogos com estampido/explosão a partir de pólvora.
2023 apresentou queda de 50% nos alertas de desmatamento na Amazônia.
As eleições em São Paulo (SP) já começaram com Boulos tirando o seu Celta da garagem.
As brigas em torno do marco temporal não acabaram.
O CNPq descobriu que ser mãe não é crime.
A dengue voltou com tudo.
Desonerar a folha de pagamento não é a única ideia imbecil do governo para estimular a economia. Também tem dinheiro para proteger montadora de automóveis contra as fabricantes chinesas.
Já a inflação caiu (mas os preços continuam aumentando, tá, Secom?).
Tentando fazer o certo, do modo errado
O Governo Federal, o partido do Governo Federal e o Congresso estão em guerra para ver quem é que faz Adam Smith se revirar mais no túmulo. Uma das primeiras brigas compradas pelo Planalto para 2024 é o fim da desoneração da folha de pagamento de 17 setores. Mas, no que depender dos congressistas da base e da oposição, o país seguirá jogando dinheiro no lixo para manter o emprego alheio.
No vai e vem de possíveis soluções, a alternativa que está se desenhando para a Fazenda talvez seja prolongar o fim do benefício e utilizar alternativas para compensar a perda de arrecadação. O caminho mais “fácil”, segundo as cabeças de planilha de Brasília (DF), é taxar todas as compras de muamba feitas em sites internacionais. Não é o ideal, mas certamente será defendido pelo seu governista mais próximo.
Olho no lance
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou o primeiro passo dos seus futuros esforços para organizar as eleições de 2024. A minuta das resoluções que vão reger as eleições municipais apontou que a manipulação com IA deve ser feita de maneira explícita. A regra é bacana e, pelo visto, já pode começar a ser aplicada por aí.
Braço forte, influência amiga
O filho do general Santos Cruz, Caio Santos Cruz, revelou, em depoimento à Polícia Federal, que um general ligado a Eduardo Villas Bôas atuou na compra de um software de espionagem pelo Exército, o FirstMile. Luiz Roberto Peret foi o intermediário da empresa de tecnologia Verint Systems, cujos produtos colocaram a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nos olhos da Polícia Federal. Se o uso do Exército foi o mesmo da Abin, era melhor ter feito uma vaquinha para reduzir o custo da Operação Araponga 2.0.
Olha quem voltou
O presidente Lula (PT) esqueceu o que disse o candidato Lula e indicou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski para o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. Lewandowski substituirá Flávio Dino, que entrará no STF nas próximas semanas.
Sacadinhas inteligentes com as indicações recentes do presidente à parte, Lewandowski pode ser lido como um nome bem conservador diante dos nomes que foram levantados para o cargo. O novo ministro poderá cuidar da segurança pública - tratada por Lewandowski como prioridade - sem se ocupar tanto quanto Dino com os golpistas do 8 de janeiro (e seus defensores). Só não será uma tarefa fácil, em um país dominado por milícias, CACs e traficantes (ou não seria tudo a mesma coisa?).