Lulaverso – Semana #04: a união sinistra dos golpistas com os genocidas
O futuro do BNDES, a crise humanitária dos Yanomami, as campanhas para a presidência da Câmara e do Senado e a relação do governo com os militares.
Tudo isso e muito mais no resumo da semana #04 do governo Lula.
The following takes place between jan-22 and jan-28
Sem conciliação I
A última semana do governo Lula começou com a defesa de que golpistas não recebam anistia — com o apoio de militares caso o presidente prometa não fazer o que ele não faria. Segundo o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não abrirá mão de punir os que foram responsáveis pela invasão e a depredação das sedes dos três Poderes no último dia 8. Tudo ótimo, mas é preciso, sempre, considerar o fator Brasil.
Troca de cadeiras I
A fala de Múcio ocorreu um dia após Lula trocar o comandante do Exército em função de uma “fratura nas relações” entre o presidente e o último ocupante do cargo. No lugar do general Júlio Cesar de Arruda, Lula nomeou Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva. Paiva foi visto, dias antes de sua nomeação, defendendo as instituições e o resultado das eleições.
Troca de cadeiras II
Júlio Cesar Arruda havia sido nomeado para o cargo de comandante do Exército nos últimos dias do governo de Jair Bolsonaro (PL). Nos poucos dias em que esteve no cargo, discutiu com o dedo em riste com o interventor federal na segurança do Distrito Federal, Ricardo Capelli, e com o ministro da Justiça, Flávio Dino.
Arruda também respaldou a decisão que impediu a prisão de golpistas acampados na porta do QG do Exército. Além disso, resistiu em sustar a nomeação do antigo ajudante de ordens de Bolsonaro (um nome bonito para “faz tudo”), o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, para a chefia do 1º Batalhão de ações de Comandos, em Goiânia. Cid é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Sem conciliação II
O ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou, a pedido da Procuradoria-Geral da República, que novos inquéritos fossem abertos para investigar os atos terroristas do dia 8 de janeiro. A determinação se uniu a outras sete investigações já em curso e podem levar a acusações de terrorismo e golpe de estado.
Moraes também solicitou à PGR parecer sob a possibilidade de que parlamentares tenham a sua posse suspensa por incentivarem os protestos golpistas. A solicitação se deu no âmbito de um processo a pedido do grupo Prerrogativas. Os advogados do grupo também solicitaram a instauração de inquérito policial contra os deputados eleitos e reeleitos.
Rachadinha palaciana
Segundo o site Metrópoles, o “coronel Cid” é investigado por realizar pagamentos de contas do presidente — além de sua família e amigos — em dinheiro vivo (a partir de saques do cartão corporativo), além de operar um “caixa paralelo” no Planalto. A investigação conta com áudios com a voz de Bolsonaro, o que indica que o presidente controlava e tinha ciência de todas as ações com cara, cheiro e cor de corrupção realizadas pelo coronel.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
Arthur Lira e Rodrigo Pacheco parecem estar abraçados à Lula quando o assunto for ajuste fiscal e punição da maioria — mas não todos — os golpistas.
Segundo a Polícia Federal, Ruben Dario da Silva Villar é o mandante dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips.
Lula prometeu pôr fim ao garimpo ilegal nas terras dos Yanomami.
A Jovem Pan não poderá excluir os vídeos de seu canal do YouTube que provam o suporte ao discurso golpista na rede.
O doutor Geraldo Alckmin assumiu a presidência da República.
A criação de um instrumento monetário comum entre Brasil e Argentina não é uma ideia nova — ou potencialmente boa para o nosso país.
Será mais fácil tornar Bolsonaro inelegível do que preso, mas nada impede a Justiça de tentar os dois.
A disputa pela presidência da Câmara e do Senado tem aumento no auxílio-moradia, chantagem e jantar multipartidário.
O Brasil recebeu novas doses da vacina infantil contra covid-19.
O Governo Federal já tem um pacote de medidas para combater golpistas.
Diplomacia I
Na 7ª cúpula da Celac, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, o presidente Lula fez diplomacia. Lula defendeu que o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social volte a ceder empréstimos a países da América do Sul. A prática trouxe problemas no passado e, para dar certo no futuro, precisará passar por controles mais rígidos do TCU e do próprio banco.
Diplomacia II
Lula também viajou para a Argentina para encontrar-se com Alberto Fernández. Uma das viagens mais tradicionais dos presidentes brasileiros, o encontro deixou de ser realizado ao longo do governo Bolsonaro. No solo dos hermanos, o presidente brasileiro defendeu a construção do gasoduto em Vaca Muerta, na Patagônia, que levaria gás ao Brasil.
Para além dos entraves financeiros e legais já listados no tópico anterior deste texto, o presidente também terá que lidar com as questões ambientais envolvendo a obra. O projeto é criticado por ambientalistas que (corretamente) apontam que o gasoduto vai na direção oposta aos compromissos ambientais de ambos os países. Além disso, o método de extração que será utilizado para extrair o gás poderá afetar a estabilidade geológica local.
Parece genocídio
A crise humanitária do povo Yanomami ganhou números na última semana. A chegada de profissionais do Ministério da Saúde na reserva indígena foi acompanhada da identificação do impacto causado por 4 anos de descaso: as invasões de garimpeiros ilegais espalharam malária em cerca de 40% dos Yanomami, além de mais de mil de casos graves de desnutrição severa e verminose entre adultos e crianças.
Tem cara de genocídio
Ao longo do governo Bolsonaro, cerca de 570 crianças morreram com doenças curáveis, como desnutrição e diarreia. As centenas de pedidos de apoio, em geral, eram ignorados pelo governo. Quando não era o caso, os funcionários de saúde eram impedidos de socorrer os indígenas pelos mais de 20 mil invasores, que conseguiram agir em um ambiente de desmonte de órgãos de controle e políticas de incentivo ao que o Governo Federal chamou de “mineração artesanal e em pequena escala”.
Talvez seja genocídio
Flávio Dino (Justiça) determinou a abertura de um inquérito policial para avaliar os “fortes indícios de crime de genocídio” diante dos “sofrimentos criminosos impostos aos yanomami". A investigação fará a apuração do envolvimento de militares e civis que participaram do governo Bolsonaro.
A lei brasileira classifica como genocídio qualquer ação intencional de um governo (ou de seus representantes) que contribua, diretamente ou por meio de omissão, com a morte de um povo.