Lulaverso – Semana #05: vitórias amargas
As terríveis descobertas sobre o governo Bolsonaro, a vitória de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no Legislativo, um senador muito falador e as brigas do Governo Federal com o Banco Central.
Tudo isso e muito mais no resumo da semana #05 do governo Lula.
The following takes place between jan-29 and feb-04
Tente outra vez
O Grupo Prerrogativas tentou suspender a posse de deputados bolsonaristas acusados de envolvimento com os atos golpistas de 8 de janeiro. O pedido foi recusado pelo ministro Alexandre de Moraes após parecer da Procuradoria-Geral da República defendendo o arquivamento da ação contra os 11 parlamentares. Além da falta de provas de que os deputados estavam envolvidos nas ações, também pesou contra o pedido a posição de que isso é uma matéria que se resolve na Câmara dos Deputados, não no Supremo Tribunal Federal.
Normar
Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal, tentou minimizar a presença de uma minuta golpista na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, de uma forma muito curiosa. Segundo Costa Neto, os projetos para impedir a posse de Lula (PT) circularam pelas salas do governo Bolsonaro como um baseado passa de mão em mão durante um sarau. Após ser confrontado pela Polícia Federal sobre a fala, Valdemar mostrou que não entende muito bem de português e minimizou a sua acusação.
Mó paz
O "devoto da democracia”, Arthur Lira (PP-AL), se reelegeu presidente da Câmara dos Deputados na última quarta-feira. A candidatura de Lira passou um trator pelas chapas alternativas, com 464 votos a seu favor. O Planalto, procurando evitar uma nova "situação Eduardo Cunha", não gastou um minuto de seu tempo buscando uma alternativa ao líder do centrão.
Sustos
Já no Senado Federal, as coisas foram mais apertadas. Rogério Marinho (PL-RN) virou o representante do bolsonarismo e da nova oposição, com direito a Michelle Bolsonaro fazendo campanha pessoalmente em Brasília (DF) pelo senador nordestino. Após um mise en scène composto por ameaças, rancores, telefonemas e viradas na última hora, Marinho perdeu a eleição para Pacheco com surpreendes 32 votos.
Trabalho artesanal em escala industrial
Os garimpeiros que invadiram as terras do povo Yanomami eram brasileiros e venezuelanos. Dados obtidos pelo Estadão mostram que os “trabalhadores artesanais” utilizavam aviões com preço acima de R$ 3 milhões para transportar o minério extraído ilegalmente, assim como enviar insumos aos invasores. Durante os meses de cheias, eles também utilizavam os rios como meio de transporte clandestino — mesmo após a retomada das ações de socorro do novo governo aos indígenas.
Reação
O Governo Federal iniciou os processos de recuperação das terras Yanomami após os primeiros dados sobre o impacto do descaso do governo Bolsonaro na região. Além disso, a administração federal também determinou que sejam bloqueados os acessos às terras Yanomamis via transporte aéreo e fluvial aos garimpeiros ilegais na região.
Na Justiça, ex-membros do governo Bolsonaro serão investigados pelos crimes de genocídio, desobediência, quebra de segredo de justiça e de delitos ambientais relacionados à vida, à saúde e à segurança de indígenas. As investigações serão promovidas pelo Ministério Público, a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República. Indícios de problemas graves não faltam.
Pequenas notas do Quinto dos Infernos
As obras de educação do governo Bolsonaro superaram 14 vezes o valor original, segundo o Tribunal de Contas da União.
O governo Lula conseguiu destravar R$ 1 bilhão para o Fundo Amazônia.
Famílias pobres foram enganadas e pagaram para receber cisternas no governo Bolsonaro.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, destinou R$ 5 milhões em emendas de relator para asfaltar estrada que atravessava fazendas de sua família no Maranhão.
Michelle Bolsonaro pode ter participado da rachadinha do Planalto após mandar matar peixes do Planalto para roubar moedas de um espelho d’água.
O relatório final da intervenção federal na segurança do Distrito Federal apontou que as autoridades foram, na melhor das hipóteses, coniventes com os golpistas do 8 de janeiro.
A criação de empregos formais caiu 27% em 2022.
Quase 500 pessoas são investigadas pela invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes. Algumas foram identificadas por terem acessado a rede Wi-Fi do Congresso.
Daniel Silveira (PTB-RJ) perdeu o foro privilegiado e, menos de 24 horas depois, foi preso.
Bolsonaro acredita que o governo Lula “não dura muito”.
Como é que é?
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) deu uma sequência de entrevistas em que, de diferentes maneiras, revelou um plano golpista para gravar o ministro Alexandre de Moraes e barrar a posse de Lula com o conhecimento de Jair Bolsonaro e Daniel Silveira. Entre as quatro versões, o que pode-se dizer é que:
Val gravaria Moraes para arrancar dele alguma declaração que indicasse parcialidade na condução das eleições;
O ex-presidente Jair Bolsonaro sabia e, possivelmente, ordenou a execução do plano;
Os equipamentos de escuta seriam fornecidos pela Abin e o GSI;
O senador denunciou a trama para Moraes, mas se recusou a depor pessoalmente.
Apurações
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou, no Senado, que prevaricar diante do anúncio de um plano golpista não é crime — mas não negou as acusações de Marcos do Val. De toda forma, Alexandre de Moraes determinou a abertura de um inquérito para saber se o senador Marcos do Val mentiu ao relatar o plano golpista, o que configuraria falso testemunho. O plano foi chamado de “tentativa Tabajara de golpe”, uma ofensa às Organizações Tabajara.
Continuidades
O Comitê de Política Monetária do Banco Central anunciou, na última quarta-feira (1º), a manutenção da taxa Selic no patamar de 13,75% ao ano. Esta foi a quarta vez que a taxa de juros se manteve neste nível ao longo dos últimos meses. De acordo com o Banco Central, a medida acontece em função das incertezas fiscais e a piora das expectativas de inflação a médio e longo prazo — indicadores que pioram e/ou pioraram em função de falas do atual presidente e as decisões do governo anterior que ainda não foram solucionadas.
Vale a pena?
Ato contínuo, o presidente Lula e parte da sua base optou por criticar a independência do Banco Central e as suas decisões. Lula entende, meio corretamente, que não há responsabilidade de seu governo sobre o déficit fiscal e a inflação. Além disso, há a certeza de que o BC estaria dificultando a recuperação do crédito e da atividade econômica no país por não dar um voto de confiança em seu compromisso de levar o rombo para 1% neste ano.
O problema é que não é assim que a economia (e as expectativas funcionam). Para conseguir esse “voto de confiança”, o presidente deveria apresentar, o mais rápido possível, as suas propostas de ajuste fiscal e de reforma tributária. Mas, até o momento, tudo está no campo das promessas e das brigas inúteis.
Quem quer rir, tem que fazer rir
Pesa contra Roberto Campos Neto a sua proximidade com os membros do antigo governo. Campos participou de jantares de Bolsonaro com empresários e de grupo de ministros do ex-presidente. Para o presidente do BC, como todos eram “técnicos” não haveria problema. Mas quem acompanhou o noticiário nos últimos 4 anos sabe que o tecnicismo da equipe econômica de Bolsonaro era tão grande quanto as capacidades de voo de uma galinha.
Ao fim e ao cabo, o governo Lula grita muito, mas não discute mudar a meta de inflação e, quando questionado sobre acabar com a independência do BC, desconversa sobre o que realmente quer. Além disso, Lula já mostrou, no seu primeiro governo, que não vê problemas com uma taxa básica de juros de dois dígitos por longos períodos. Talvez seja mais interessante a todos os adultos na sala evitarem ruídos e trabalharem para melhorar as expectativas econômicas.